quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Só sei que nada sei

Cara, às vezes eu me sinto um peixe fora d'água em questões espirituais/religiosas. Não é que eu não acredite em nada. Eu acredito, e muita coisa faz sentido pra mim. Mas, como disse um amigo meu uma vez, eu acredito, mas não tenho fé. Porque a fé é a certeza.

Por exemplo, quem é católico MESMO tem que ter certeza de que Jesus ressucitou no terceiro dia. Quem é espírita tem certeza de que existe reencarnação. E eu? Eu acredito em reencarnação. Mas dizer que eu tenho CERTEZA que as coisas acontecem dessa forma? Na-não.

Eu, na minha infindável modéstia (ironia, tá gente? humildade proclamada é a coisa mais arrogante que existe!), me recolho à insignificância do meu ser e do meu saber. Afinal, quem diz que existem 72 virgens aguardando os mártires no céu e quem diz que adão e eva foram expulsos do paraíso não é Deus: são os homens. E, homens que são, são passíveis de erros, de falhas.

Eu não consigo engolir tudo o que falam, e duvido até mesmo das coisas que eu acredito. Em matéria de discussão religiosa (ou seja lá o nome que quiserem dar a isso), eu gosto mesmo é de ser o advogado do diabo (com o perdão do trocadilho!). Mesmo que eu pense igualzinho à outra pessoa, eu questiono, faço ela explicar pq ela pensa tudo aquilo, pq eu realmente não consigo entender como as pessoas podem ter tanta certeza de algo sem nenhuma prova concreta.

Sim, me falta fé. Mas, pelo menos, quando tudo acabar (o mundo, ou o universo, ou a minha vida), te digo que não vou me surpreender com nada que eu encontrar do ladode lá. Afinal, não tendo certeza, eu espero qualquer coisa. Até mesmo o nada.

Pra finalizar, um dos meus poemas preferidos de todos os tempos. (Leia a versão integral aqui)

Há metafísica bastante em não pensar em nada
(Alberto Caeiro)

(...)
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

2 comentários:

Dandalunda disse...

eu adorei esse seu texto, me sinto quase que exatamente assim. esse ano a fé deu uma renovada em mim e eu vi que minhas crenças e minhas conexões com o mundo independem da igreja. elas dependem de um estado de oração, eu posso pensar na minha vida e me conectar estando em qualquer lugar. voltei a rezar todos os dias, mas rezo pro meu deus, não pro deus das outras pessoas. concordo plenamente que vínculo com religião é difícil, não questionar é impossível. tenta saber o que vc sente. alguma coisa vc deve sentir, puxa daí a sua espiritualidade! beijocas, mari, vou ler mais do seu blog agora.

Dandalunda disse...

tipo, eu sou aquela que não tem vergonha de comentar 3 páginas de texto, né? =P